sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Apoio aos refugiados

Partilhamos neste Ministério algumas considerações práticas sobre a actual crise, resultado de amadurecimento de ideias, semanas de telejornais e convívio com adeptos de teorias da conspiração:

- já temos políticos suficientes, bem como responsáveis de instituições internacionais para discutir o problema em termos geo-estratégicos e raio-que-os-parta Schengen. É fechá-los numa sala a fazer divagações teóricas e negociações europeias, nomeadamente sobre parar de alimentar terroristas.

- em paralelo, uma outra estrutura há-de definir o modelo de apoio logístico de controlo entre fronteiras, identificação etc., idealmente recorrendo à experiência de organizações no terreno. 

- quando oiço que "ah e tal os terroristas vêm lá no meio... são muçulmanos, são radicais" só me ocorre que se vemos alguém em sofrimento, surge uma predisposição natural para agir de forma a aliviar esse estado e a emoção sobrepõe-se à razão (razão essa, a que se dedicam os tais do raio-que-os-parta-Schengen que referi uns pontos acima!). A emoção, em termos práticos, significa dar calor às pessoas, alimento, trata-los como seres humanos dignos que são. E fazer pagar o justo pelo pecador nunca fez muito sentido para mim. 

- o óptimo é inimigo do bom: não é por não podermos acabar com a guerra de um dia para o outro ou responsabilizar os EUA, entre outras teorias que tais, que vamos fechar os olhos e fingir que  não estão a chegar mais de 2000 desgraçados por dia, às portas da Europa, deixando-os lá em "armazém" a atirar comida no meio de arame farpado, ignorando traumas e desprezando a dor daquela gente. 

Discutir tanta merdice sociopolítica a ponto de virar a cara a ajudar quem precisa, para mim é sinónimo de um caminhar a passos largos para corações de pedra.

- Portugal: Somos um povo generoso. Não só o meu coração de voluntária universitária do GASNova começou a pulsar com mais força, como de alguns amigos dessa época. Já podemos estar todos a trabalhar e com as nossas vidas organizadas de forma diferente, mas o instinto de contribuição social pura, permanece. Em menos de um piscar de olhos foi criada a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) - o Serviço Jesuíta aos Refugiados está no núcleo desta Plataforma e tem um trabalho de campo incrível.



No dia da Conferência de apresentação da PAR - Plataforma de Apoio aos Refugiados, eu estava a trabalhar mas tinha uma amiga correspondente - a super Constança Dias!- cujo relatório transcrevo abaixo, para os meus queridos (e)leitores:

1. A PAR foi criada para dar resposta às necessidades dos refugiados que estão a chegar a toda a europa e também a Portugal já no fim de Outubro (previsto).

2. O site da PAR é www.refugiados.PT

3. Tem diversos parceiros e o número de parceiros está a aumentar. Parece-me importante dizer que as várias religiões estão entre estes parceiros, nomeadamente a Islâmica.

4. A PAR criou 2 linhas de acção

a. PAR família – tem por objectivo o acolhimento e a protecção das famílias, com os objectivos da autonomia e independência.

i. O modelo escolhido para o acolhimento é o das instituições anfitriãs
ii. Qualquer instituição pode ser anfitriã – desde escolas, juntas freguesia, câmaras, empresas, com apoio também de outras empresas, pessoas individuais, etc. Usar a imaginação para pedir apoios locais (eu vou apresentar a PAR às Juntas de Freguesia mais próximas de mim).
iii. Critérios para ser instituição anfitriã: Por 2 anos garantir o alojamento, alimentação adequada e acesso aos serviços básicos (saúde, trabalho, educação e aprendizagem de português). Os refugiados vão ter algo como um titulo de residência que lhes permite ter acesso ao Sistema Nacional de Saúde e trabalhar. A instituição anfitriã deve apenas garantir que dará as condições/ajudará à procura de trabalho….não tem de arranjar trabalho propriamente.
iv. Vai haver um contrato de acolhimento para proteger ambas as partes envolvidas neste processo (direitos/deveres).

b. PAR Linha da frente
i. Objectivo – Ajudar os refugiados que ainda não conseguiram chegar cá ou a outros países de acolhimento e que estão por isso nos países em guerra ou em países de “transição” através do apoio local da Cáritas e outros.
ii. Para atingir o objectivo são pedidos donativos financeiros para nib’s da cáritas (ver site cáritas) e de outros que provavelmente hão-de aparecer no site da PAR.

Porquê dinheiro e não géneros?
a. A ajuda é mais difícil de chegar.
b. Muitas vezes não chega em boas condições, nem atempadamente, especialmente em locais de conflito.
c. Diferenças culturais e de climas muitas vezes tornam a ajuda em géneros desadequada (vestuário).
d. Enviar dinheiro permite desenvolver ou manter a economia local, porque em vez de enviarmos de cá géneros, têm de se comprar e produzir lá… o que cria postos de trabalho e é bom para todos os envolvidos…

Resumindo... o que podemos fazer:

1. Partilhar o site e iniciativas da PAR o mais que pudermos entre os nossos contactos (redes socias, boca a boca, carta, bilhete numa garrafa lançada ao mar... todos os meios são bons).

2. Oferecermo-nos como voluntários enviando um email para par@ipav.pt - há um espaço no site com esse fim e depois é só aguardar que nos contactem.

3. Fazer donativos em dinheiro para o PAR Linha da Frente.

4. Arranjar Instituições anfitriãs, que depois também se podem inscrever numa área no site para posteriormente serem chamadas.

5. Desmontar as opiniões "tóxicas" que visem levar a uma rejeição dos refugiados (já todos conhecemos os comentários do costume: "não há para nós, mas agora vai haver para eles", " temos é de cuidar de nós", "os estrangeiros têm de ir para a sua terra" etc etc). Há que combater isto em todas as ocasiões...facebook, conversas de café, jantares familiares (e para os políticos....na assembleia). Ajudar faz parte de ser humano e... ser português é ser humano.

Não há que ter medo de ajudar.
As boas acções trazem em si a promessa de algo melhor para todos.

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